"Um pouco mais de sol - E eu era brasa".
Ele me carregava nos ombros enquanto atravessávamos as avenidas lotadas. A cada passo que dávamos, o movimento diminuía, as cores submergiam. As fantasias ficavam menos luxuosas. Em vez dos jovens bonitos que ocupam as cidades (mas somente com os blocos e protestos com câmeras), surgiam prostitutas baratas, garotos de rua e mendigos que adormeciam bêbedos entre as esquinas. Segurei mais forte em seu pescoço e cantei, aquele canto que só o carnaval conseguia me arrancar.
"me deixem cantar até o fim, eu sou mulher do fim do mundo eu sou e vou..."
Enquanto cantava, comia películas da tinta azul de seu cabelo que já estava seca. Ele havia insistido naquela cor absurda.
- Isso não é fantasia - contestei.
- Quero meu cabelo azul - ele repetiu firme. Juntei toda a tinta guaxe e esfreguei sobre seu cabelo fino. Não tinha muita diferença colocado contra a cabeleira negra. Manchei sua testa e sua nuca, ele não se importava. 'Agora tua vez', disse. É claro que não deixaria. Onde já se viu bailarina azul? Repeti meu pensamento, dessa vez em alto, em voz estridente que cortou seu rosto azul sério num sorriso. Pintou meu nariz e eu deixei.
"Um pouco de azul..." - - disse meu poetinha vivo em seus referências.
"...E eu era além".