Morar num hotel é uma experiência
singular. Você acorda, atrasada sempre. Culpa os 34 episódios de Simpsons que a
Fox insiste em passar todas as noites, um documentário bizarro de qualquer canal ou
todos aqueles filmes ruins que você só se permite assistir sozinha. Sozinha ou com os
fantasmas que te fazem companhia. Seja qual o motivo, não se dorme bem. A cama é
confortável, tem o ar condicionado moderno, janelas a prova de som e cortinas que
bloqueiam até mesmo a claridade das ideias. Mas algo nessa imensidão branca,
construída perfeitamente para praticidade e repouso, é desconfortante. Penso num cigarro e não se pode. Desejo uma
cerveja e me nego abrir o frigobar. Permito-me sentir fome e toda vontade passa
ao lembrar do tédio dos restaurantes. Convenço-me finalmente a sair. Um vestido
bonito, cabelos soltos, maquiagem leve e estou pronta. Puxo as cortinas e vejo
somente a chuva sob a fila de carros que atolam as ruas. Me desanimo uma outra
vez. Envio mensagens, reviro e-mail, refaço a mala e desisto. Me entrego a
branquidão do quarto e me permito escutá-los, eles, os amigos fantasmas. Um diz
ter seu nome. Na minha mente, a voz tem seu sotaque. Discutimos. Rimos. Se
aninha ao meu lado enquanto abraço o travesseiro e tento dormir. Outros
fantasmas aparecem e tentam ocupar o mesmo espaço. Dos principais, três. Todos comigo. E ninguém ao lado. Assumem diversos formatos, sentimentos e sonoridades Mas
sempre no mesmo tom: branco. Pálido. Tal qual como o quarto.