segunda-feira, agosto 08, 2016

Zaragoza, 17 de junho.

Eu não quero ser o arrependimento de ninguém
E com essas palavras, parti. Literalmente, para o fim de uma jornada. Figurativamente, sabendo que uma parte minha ficaria sempre ali, numa praça vazia que preenchemos com nossos segredos.
Construímos piscinas para formigas no seu umbigo, enquanto deitados sob um sombra duvidosa. Depois de uma discussão, te convenci que aquilo não é sombra e você me convence que um banho de sol faz maravilhas à pele mas implora a cada meia hora que eu reforce o protetor nas suas costas. Escrevo meu nome em branco na sua pele e esfrego minhas mãos em você. Assisto um pequeno inseto que caminhava em seu ombro com uma naturalidade que eu invejava.  Te chamo de filho e você fala de incesto. Corrijo "dear husband" e você emenda "dearest". Brincamos de futuro. Fizemos ali um plano tão surreal que nos causou um silêncio desconfortável. Quase duas horas. Uma eternidade para nosso pouco tempo. Tudo em nossa relação era pitoresco, absurdo. Projetar qualquer futuro era quase crueldade.
Já conhecia seus medos e as maneiras de te deixar acanhado. Já sabia te fazer sorrir e dançar noite adentro enquanto cantava sem timidez alguma. Me chamava de 'meu bem' sem sotaque algum enquanto me preparava a janta e sempre que me agradecia ao te acender o cigarro ou limpar as flores ainda grudadas em sua barba. Flores de algodão com qual disputamos nossa primeira guerra, que, se vale o comentário, eu ganhei.
Eu não quero ser o arrependimento de ninguém.
Mas desejei muito que você fosse o meu.
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fica o que não se escreve.