quarta-feira, julho 23, 2014

Julgue nessas rotinas. Julgue nossas escolhas e nossos problemas de classe média. Julguem quem somos. Parte de nós se importa. Outra nem tanto. Somos todas essas jovens mulheres de vinte e poucos que saíram de casa novas demais, fizeram escolhas importantes cedo demais. Com alguns arrependimentos. Mas já cantavam outras mulheres como nós: 'forward is the only way'. Assim então seguimos. Em frente, um dia e depois outro. Tudo sufocado com que temos ao alcance: cigarros, bebida, pequenas felicidades, pequenos escândalos. Abraçadas na janela, olhando em frente, pensando naquilo pra que não se pode mais voltar. Sempre tem amor no meio. E não nos culpe. Fomos criadas pra isso. Pra amar, se entregar à tudo. São empregos, pessoas, animais, sapatos ou viagens. Tudo com intensidade, tudo pra agora. Alguns amores perduram. Alguns são sonhos, outros se tornam realidade tão rápido que nos faz crer que não é verdade. Aí fode tudo. Mas não é o caso agora. Somos três e mais uma. Um apartamento minúsculo numa cidade gigante. E tudo que importa agora é um e-mail. Oito meses de espera. Quase um filho. Mais garrafas de vinho que qualquer outra situação poderia aguentar. Mudamos de cidade, trocamos os números, nossa forma de agir e vestir. Mas o coração, aquele sonho velho de guerra, esse viveu os oito meses igual. Calado, mas ali. Uma delas, dessas jovens mulheres de vinte poucos anos, ficou esperando. (...) Um e-mail, três linhas. E pronto, já era toda a mudança aparente. Vieram gritos do quarto, meu nome gritado. Pensei em insetos, trabalhos apagados, alguma caimbrã. Mas não. Era ele. Metade passado e outra metade constante. Perguntou onde estava, que tinha acontecido, porque sumiu. Eight fuckin months. E pergunta se tá frio ai aonde você está. Tá um inverno, cara. Um inverno que parte de dentro depois dessas palavras. Ai a gente acende um, dois, três, sete cigarros. E debate a vida. Debate eles, debate como tudo muda, mas nem tanto. E se questiona: ele sabe? Será que ele tem idéia de tudo que já aconteceu desde então? E de repente vira uma piada interna. 'Everybody is someone's K.' K. é aquela pessoa, que independente de tudo, sempre vai te querer. Você vai ignorar, vai encher a cara e ligar Às 3h da manhã perguntando aonde está. E independente da resposta, você sabe que é merda. Mas é bem provável que ela tentar te encontrar porque ela sempre vai te querer. Então o amanhã, esse amanhã cruel, também te encontra. Você olha pro lado e sabe que tá errado. Você enche os olhos e tudo gira. Esse amanhã sempre tão cruel. K. vai embora e você promete que é a última vez. Sabe que é ruim, mas não sabe tão bem assim. Mas a teoria é cíclica. Everybody is someone's K. Sua vez chega. E esse era o momento dela. O foda da teoria cíclica K. é porque nunca é claro. Quando se gosta de algo assim, é difícil ver esse tipo de falha. Nunca as imagina como alguém ruim. E logo, nunca consegue ver a situação clara. Até porque, quem faria isso com outra pessoa se não fosse simplesmente uma pessoa ruim? Lygia Fagundes Telles respondeu isso à algum tempo. Ninguém é bom ou ruim. Nada existe nessa visão de donzela provinciana. É uma questão de ângulo, de situação. Mas ninguém fica lendo Lygia Fagundes Telles nessas horas. Simplesmente deduz que aquela pessoa que tanto se quer jamais faria isso com você. Quem seria tão maluco de insistir numa situação sem fé? Pois é, todos nós. Porque é cíclico, cara.
Eu não sei como o e-mail foi respondido. Aprendi, um pouco tarde demais, é verdade, a não interferir. Chacoalhar a cabeça com afirmações e balança-la em negações. E a esperar. Somos todas essas jovens mulheres de vinte e poucos que aprenderam a esperar&esperar.
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fica o que não se escreve.