sábado, outubro 19, 2013

da sessão: cartas a NÃO serem enviadas.

A gente se decidiu. E eu tenho certeza do que eu decidi (e, acredito eu, te fiz crer que era mútuo, que era nossa decisão). Mas de tantas perguntas me encheram essa noite que eu tive de pensar. Repensar o dito, tanto as verdades quanto as mentiras. Pensar se eu não tinha a certeza de que ia te encontrar essa noite. Pensar também no outro, que é muito mais 'você' (tanto de sentimento quanto temporalidade) do que 'outro'. E eu o quero. Quero, mesmo na dúvida eterna da busca (sabe aquela dúvida constante? Aquela que me serve de morada e me chama de 'minha'). Quero porque é bom e não porque convém. Quero tanto que quero te dizer. Não só porque sou cruel, não só porque me faz bem, porque quero ser feliz e reafirmar pela garantia. Na verdade, eu só quero falar com você. É tudo. Vê o egoísmo nisso? Que tonteira, não? Negar amor por palavras. Ta aí porque nos entendemos, eu e você (o você que não é o 'você' de agora mas é pra quem escrevo): nós somos feitos de palavras. Discursos pré-fabricados, idéias boladas, letras de música e versos de livros. A gente se entende. E nunca ninguém vai entender isso. As pessoas vão me encher de perguntas, assim como já fizeram com você. "O que é ela?" eles te dizem. "E por que não?" me repetem. Eu sempre respondi com a verdade. Ninguém acredita, e isso me frusta. Sabe o que mais me irrita, em todo mundo? Quando não me creem, mesmo quando é uma mentira na qual acredito. E não que seja o caso agora. A resposta é: porque eu não quero. Porque são palavras, porque você não é nada do que eu procuro. Estou agora pensando o que é isso que procuro e o que você é. O que é você, afinal? Uma boa pessoa, carinhosa e atenciosa. Ninguém nunca fez por mim o que você fez. Sabe do que mais lembro? Quando andavámos de bicicleta, você tomou o lado dos carros e eu disse "pode ir na frente, eu sei que você tá enrolando por minha causa". Você respondeu "eu tô aqui pra te proteger". Brinquei sobre a possibilidade de um carro te acertar, você respondeu tal como eu perguntara sobre o clima "melhor que seja em mim". Naquele dia eu entendi. Entendi que eu nunca poderia querer alguém que me quisesse mais do que eu. Uma coisa meio Brod. Metade poesia, metade sofrimento (se já não são a mesma coisa).
Eu realmente não sei se isso se aplica agora. Eu não sei se você me odeia, se você ainda quer falar comigo ou se ainda sente algo. Eu não sei. Eu não sei e não saber me suga mais do que essa possibilidade de amor que tenho agora. Posso te falar um pouco dele? Era ele, o rapaz que desenhava dragões em nuvens, só pra me fazer feliz. Que tanto cresceu nesses anos que nem posso acreditar que eu nunca havia notado essa potencialidade. Ele é tão bom que me faz sorrir só de te escrever isso. Mas eu sei que pode te parecer exagero, mania de mágoa alheia ou simplesmente mentira. Não o é. Mas ele não é você. É só com você com quem eu quero falar disso tudo, e mais.
Eu sei que é pedir demais, então me rendo a nossa forma original, isso de que nós dois somos feitos na esperança que você leia e me entenda. Sempre, às palavras.
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fica o que não se escreve.