‘Ella todavía te queres. Llámala, por favor.
– Era esse o segredo. Essas palavras que
marcavam o papel guardado há tanto tempo. A gente no bar, eu e a amiga desesperada, e ele no banheiro. Apelou pro meu lado humano, que de tantos mal dizeres nem eu
não mais acreditava mais existir.
- Só entrega – ela me disse. Meio
amassado, um guardanapo com a ponta rasgada pelo suor dos copos que escorria na
mesa. – Eu sei que é sem sentido te pedir isso, e uma parte de mim espera que você
nem o faça. Também já tô cansada, mas a gente não tem nada a ver, então
só entrega, tá? – e saiu, metade alívio, metade derrota.
Não entreguei. Não entreguei porque eu não
havia desistido. Talvez fosse mais competição que amor, mais ego que valor. Mas
era minha vez. A outra – a que ainda amava – teve suas chances, todas tomadas
por lamurio, cansaço e destruição. Era amor, disso eu não duvido, mas era
também sadismo. Fui em quem secou as lágrimas, estampou os sangramentos e desanuviou a
alma. Era minha vez. Minha. Assim como ele mesmo me chamava. “Mía, chica, sos ‘minha’.”
Gostava do som da palavra, gostava da sensação de possessão. E mesmo sabendo
que ele nunca fora só meu, eu também gostava da sentir-me tomada. Era uma
idiotice, sei agora. De todos os sentidos, desespero e ego. Mas mesmo quando
terminou, continuei com o bilhete. A outra já tinha partido, de volta pro que
considerava sua casa. Mas o último resquício de amor que poderiam ter vivido,
eu escondi. Cheia de amargor e invídia. Eu fiz valer todos os mal dizeres, só porque
era minha vez de ser assim.