sábado, dezembro 01, 2012

Acordei com a ousadia de finalmente destinar-lhe as palavras. Logo essas, tão minúsculas, que circulam a minha volta e me constroem a mais tempo do que posso me lembrar. Essas, que mantive tão distante da boca e dos dedos por medo de eternizar todo o passado que tão cuidadosamente guardei dessa década recém nascida. Chocalho meus medos e poluo toda a casa com meus bem-dizeres sobre o imundo e mal-dizeres sobre o que amo. Tão como me era comum.
Cá estou, oferecendo a cara a tapa, mesmo sabendo que suas mãos grossas só sabem oferecer carícias. Não me entenda mal, você é exatamente o que eu procurava, mas bem sabemos que esse meu querer não o é o que mereço. Preciso pagar pelo sangue frio que já correu nas minhas veias, pelas marcas de batom em território alheio. Quando? Pergunto com as mãos suadas pela antecipação. O medo me rouba a voz, e logo a paranóia se fixa em meus olhos. 'Quando, eu choro, quando?!' E como? Será pela destruição do sentimento, o corrompimento da sua bondade pelo meu escárnio, sua libertação pelo conhecimento da minha negr'alma, 'Como?!' eu te grito. Acendo um cigarro e me entrego aos mais diversos vícios na tentativa, frustada, de controlar minha ansiedade. 'Já te contei todas minhas sujas verdades, porque você insiste em ficar?' te pergunto. Seus olhos se afundam abaixo das pálpebras, suas unhas percorrem minhas pernas tão habilmente sem nunca deixar marcas, desmaio em seus lábios. 'É agora? Ou... agora?' penso enquanto acordo sozinha delirante no dia seguinte. Escuto a porta bater e me pergunto se é você partindo. Ou pior, voltando.
E toda aquela paz que você me ofereceu já se subverteu em desespero. Eu já vivo a triste realidade do pagamento, e meu maior castigo é carregar-te comigo, infeliz.
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fica o que não se escreve.