Lembra do nosso primeiro encontro? Estava perto daquele bar que me disse ser o único que conhecia aqui na cidade e lembrei-me de você. Desejei que estivesse lá comigo, pra tomar aquela cerveja que te prometi da primeira vez que nos encontramos. Você disse:
- Você está se mudando então?
- Não sei ainda, vai depender..
- Ah é? Pra onde?
- Argentina.
(falei tão baixo que só fingiu entender).
- Legal. Você se muda bastante então. Eu sempre quis poder fazer isso.
- Por que não o faz, então?
Vou até parar de narrar um pouco aqui para poder descrever bem esse momento. Seus olhos falaram até mais do que sua boca naquele momento. Simplesmente evitava olhar pra você, mas naquela hora, naquele momento, você me olhou tão fundo, de uma forma acusadora, desafiante que tive que te encarar. Não sorriu, mas não estava bravo, não, era quase como sarcasmo, como se soubesse que eu me julgava mais corajosa pelo simples fato de ter coragem de partir. E caralho, sei que me achou prepotente, enfadonha, arrogante e acredite, eu te julguei de forma pior na minha mente. Mas era tão bonito, que até sua petulância parecia pequena perto de seus enormes olhos castanhos.
- A cerveja. É barata demais por aqui, não troco. Na verdade, até ofereço. Quer tomar uma comigo?
- Não, mas obrigada. Já tomei o suficiente hoje. - Então voltei a encarar a câmera, passando foto por foto, sem realmente vê-las, mas era a melhor desculpa que tinha para não te encarar.
Me afastei depois disso porque se eu ficasse, seria desgaste demais e eu não queria te desperdiçar. Percebe? Mesmo com meu comportamento babaca (peço desculpas por isso, assim como te desculpo por mentalmente me odiar naquele dia), eu gostei de você. Mais do que isso, eu realizei a minha vontade em você: eu te vi.