domingo, agosto 05, 2012

Diário de viagem, dia 26 de junho de 2012. Aeroporto de Guarulhos, São Paulo.


Tô em uma das minhas posições mais confortáveis: a inexistência.
Ou como diria Brod, companheira de viagens, solidão, desjuízo e conhecedora única da 613 tristezas (das quais eu venho, esforçadamente, tentando diferenciar internamente), estou finalmente vivenciado A Tristeza de Passar Despercebida.
São 6 horas de ônibus, 11 de aeroporto, 3 de voo, mais algum intervalo dividido entre aeroporto e rodoviária, e então, outras 9 de ônibus por terras argentinas. Nesse período, eu não existo.
Sou o simples reflexo alheio. Não penso, não julgo, retribuo (de maneira equivalente) todos os olhares que recebo, todos os comentários que me dirigem, seja escárnio ou carinho, eu sou todo mundo que me cerca. Não sei quando começou ou o porquê, mas em todas minhas infinitas horas de espera (um verdadeiro teste de paciência para uma criatura tão impaciente quanto sou), aprendi a existir assim. E talvez seja errado, mas toda a sinceridade do meu ser se concentra nesses momentos. E  por mais que eu realmente queira que a tal espera chegue ao fim, para finalmente vivenciar minha palavra motor: wanderlust (e, futuramente, grudada à minha pele), sou abalada por uma péssima onda de realidade. A transição de 'não existir' para o 'fingimento' (já que viver entre quem já se conhece é isso, um mero fingir ser aquele que todos acreditam que você é).
Olhar pra duas crianças me fez lembrar de alguém que já fui no passado. Miúda apaixonada pelas poeiras dançantes em fachos de sol. Dançantes a qualquer movimento próximo, tais quais as próprias crianças.
Olhar pro casal me faz pensar em quem posso ser. Viajam com pochetes, mochilas e a idade nas costas. Mas no rosto, a serenidade que só se encontra igual no reflexo em meu rosto 'inexistente'. Expressam felicidade na simples possibilidade de ser.
Há tanta diversidade de línguas. Tantas diferentes formas de expressão, que, influenciada pelas risadas dos coreanos, só consigo acreditar que são línguas criadas, uma piada que só eles entendem, mas é contagiante demais para não se deixar influenciar. Acabo rindo junto, pela 'inexistência' e pelo contágio. Uma risada que não vai se repetir, e que nunca vou entender.
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fica o que não se escreve.