- Pouco sabia aquele que primeiro disse sobre almas gêmeas. Um amor único, tão exclusivo a dois, que o resto não existe. Ora, pense friamente, meu querido, se realmente eu fosse única para você, por que tua solidão viril doeria tão forte? (...) Encare as antíteses, está bem? Claro e escuro, vida e morte, sorriso e lágrima, amor e ódio. Concorda até ai? Ótimo. Então, se o amor fosse tão limitado a só uma outra pessoa, logo, o ódio também. E dizer 'eu te odeio' seria tão especial quanto 'eu te amo'. Todavia, a quantas pequenas coisas e tão dispensáveis pessoas expressamos nosso ódio? Entende então que o amor, assim como ódio, são estados mutáveis? Essa coisa de 'eternamente' é tão absurda quanto indefinivel. 'Te amo para sempre'. Até quando? Até a minha morte? Ou a sua? Ou quem sabe, os corpos se vão e amor fica dissolvido no ar, entrando e saindo das veias respiratórias daqueles que se dizem (erroneamente, como você egoistamente afirma) apaixonados. Aceite, coração - beijou sua testa levantando - Volto amanha para buscar o que resta.
Ela saiu da sala com ares de cansaço vitorioso. Ele a assistiu fechar a porta e pode ouvi-la entrando no elevador. Buscou na última estante que existia naquele lugar, lugar que há tão pouco chamava de casa, um velho pedaço de giz que habitava a gaveta muito antes dos dois sequer serem dois. Em letras corridas escreveu na parede, guardou o giz no bolso, pegou as chaves e foi embora, não sem antes olhar para trás.
'O oposto de amor não é ódio. É vázio.'