Ele a olhou devagar, com as pálpebras preguiçosas de quem não sabia o que dizer. Ela se indignava, porque sabia que se dava mais do que podia. Criticou-se silenciosamente por não conseguir dizer o que tanto planejara durante aquela noite quente. Não noite, noites. Três em uma: O festejo, A inércia e O lamento.
A que mais se recorda é a última, onde doeu-se por inteira, de bêbada, de cansaço, de ciúme. Talvez o despeito amoroso fosse o pior. Gemia-se toda molhada em baixo do chuveiro figurando as possibilidades. Explosivamente recordável. Era só jogar os pensamentos nos dias anteriores e lembrar as outras se fazendo tão simpáticas. E lá ela ia, arder-se em queixas com o rosto sujo e o coração na boca.
Voltou então ao momento em que o deixara, naquele silêncio particular que ele fizera sua morada. Ela podia tentar imaginar o que esse vazio tentava expressar. Onde estava, porém, a justiça nisso? Seu orgulho valia tanto quanto ao dele e ainda assim, abriu mão por diversas vezes. Era isso que ela buscava. Não o conforto passageiro nos dizeres masculinos, nem uma tentativa de recuperar a empáfia. Ela só queria a certeza de não estar se afogando sozinha.