Quando abro a janela, sinto o cheiro de queimado tão costumeiro da cidade. Penso nas brasas consumindo a terra e que vagarosamente me roubam o ar. Relembro o vento tão raro e a chuva tão escassa. Canto três sambas seguidos, os únicos que sei de cabeça. Acaricio o gato e arranco-lhe uma das sete vidas com o cigarro que fumo lentamente, para alentar o espírito. Choro fraco e busco as boas lembranças, tão distante da janela. Ameaço me distanciar na esperança de gritarem meu nome e pedirem que não, que eu fique, que me jogue. As buzinas continuam a travar sua guerra civil ao mesmo tempo que o cheiro da fumaça cria forma e cor, devorando tudo que envolve a janela.
Lembro de quando me convidou para dançar. Nós dançamos. E com os mesmos passos daquela valsa, eu fecho a janela.
Carolina desiste de ver a vida passar. "Da primeira vez ela chorou, mas resolveu ficar. É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar, depois perdeu a esperança porque o perdão também cansa de perdoar."
~Toquinho e Vinicius de Moraes ~