
"eu não pude responder pois não havia resposta. bem, na realidade havia, mas seria ousado demais dizer-lhe que eu sabia que ele viria."
(...) O sol nascia, e eu permanecia a beita-rio, agora sozinha, vendo-o se aproximar.
veio em minha direção de cabeça baixa e sentou-se ao meu lado como se eu não estivesse lá.
ficamos dividindo o banco em silêncio olhando para a água onde os raios dourados começaram a refletir.
olhei de soslaio, ele jogou o cigarro na água, soltou um leve suspiro e levantou o pescoço de olhos fechados para evitar o sol.
abaixei a cabeça com um riso abafado.
- não deveria estar em casa? - ele dizia ainda na mesma posição.
- talvez - disse em vão olhando o cigarro boiando a margem do rio - você não?
- não - disse num ritmo rápido sem preocupação, agora já olhando para mim.
encarei-o por cima de meus ombros, mantendo os olhos semi-abertos e dei um sorriso acompanhado de uma risada.
- o quê? - ele perguntava agora rindo.
eu não pude responder pois não havia resposta. bem, na realidade havia, mas seria ousado demais dizer-lhe que eu sabia que ele viria.
eu me levantei e comecei a caminhar em volta, passo a passo, com leves pulinhos, deixando marca na terra úmida. ele que agora sentava com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas, me acompanhava atentamente com os olhos maliciosos.
virei-me em direção ao rio onde a brisa batia contra minha saia, fazendo-a se movimentar como em uma dança, meus cabelos se levantarem superficialmente deixando dificil entender qual era o ritmo de vento.
ele aparentava uma certeza que eu sempre invejara.
fiquei imóvel e toda a coragem e postura que tive até ali se desfez, estava emocionada, dum modo assombroso. pensei em algum comentário, mas nada soava certo.
o silêncio logo desvaneceu enquanto ouvia meu nome. era hora de ir, mas ainda era tão cedo.~
ele agora aparentava distante com um novo cigarro na boca, como se eu nunca estivesse estado ali.
- até.. - foi o que consegui dizer e virei as costas antes de uma resposta.