Eu enganava bem. Das dançarinas, a pior. Dos sorrisos, o maior. Até porque, no final das contas, vale é a diversão. E eu sempre me divirto. Não nego que me sentia um pouco humilhada pela garota ao meu lado. Do tipo ‘bonitinha, mas ordinária’, sabe? Agradeci ao rapaz pela dança e fui ao bar atrás do sofá, enchi o copo e acendi o cigarro. Ordinária graciosa. Suspirei fundo e recuperei o ar. Bati as cinzas acidentalmente num rapaz sentado no sofá e pedi desculpas, ele sequer piscou. Segui seu olhar e era tão óbvio, tão óbvio. A menina se exibia sem exclusividade e ele a amava unicamente. Como alguém que poderia dizer ‘ninguém vai lhe amar como eu’ sinceramente, mas não era hipócrita o suficiente para fazê-lo. Eu já o amava por isso. Mas assim como ele, jamais seria capaz de tirá-lo daquela posição, de aquele que ama para o que é amado. Por várias razões. Talvez, ele se sinta confortável o suficiente ali ao ponto que eu pudesse insistir a minha vida inteira para tê-lo, em vão. Ou talvez porque se eu o fizesse (e conseguisse), todo o meu amor se esvaísse. E acabaríamos os dois assim, vazios.
Pensei então em tirá-lo para dançar. Algo incrivelmente rápido, indolor. Só para que enfim ele pudesse descansar seu corpo sobre o meu e deixar escapulir um gemido de dor, do ciúmes que o devorava tão lentamente. Não me importaria que ele imaginasse o rosto dela no lugar do meu, eu só queria vê-lo sendo. A música terminou tão subitamente e ela veio, garbosa desabando ao seu lado, dizendo que estava cansada e enfim dormiu no seu ombro, sem esperar reação.
Escrito em conjunto com Luciano Ratamero. A visão dele, suas palavras.